quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

E agora, Onélia?

Eu devia ter uns 13 anos...
Estava assistindo uma aula de ciências, com a Onélia, a professora mais temida da época, no Educandário Imaculada Conceição. Sempre paguei muito pau pra Onélia. Ela era foda. Ela fazia todo mundo respeitar ela, era a aula mais silenciosa (a única!), conseguia fazer todo mundo se matar de estudar, e sabia muuuuuuuito da matéria. No fundo, beeem no fundo, mas beeem lá no fundo mesmo, eu daria tudo pra ser ela. Tirando a parte de ela ser feia, nariguda, velha, gorda, e um tanto quanto careca... Eu daria tudo pra ser ela.
Enfim, era alguma manhã em que estávamos falando sobre tudo, menos ciências. Como de praxe, o assunto sempre acabava em “homens”, e a Onélia começou com aqueles discursos de velha virgem que não teve sorte de encontrar alguém pra si e se revoltou contra todos os homens da face da terra, dizendo coisas como “Meninas, NUNCA acreditem nos homens. Tudo o que eles querem é abusar de vocês, usá-las até dizer chega, e quando vocês tiverem velhas iguais a mim, eles não pensarão duas vezes em chutá-las”.
Algumas meninas discordavam, dizendo que seus pais eram apaixonados há anos e tal, e a conversa foi se prolongando. Até que a Onélia deu seu último e fatal argumento:
“Eu quero que um raio caia na minha cabeça agora se nenhum dos pais de vocês trocariam as suas respectivas esposas por, sei lá, uma Ferrari...”
O silêncio na sala prevaleceu, as opiniões foram cortadas, não havia nenhum argumento que pudesse combater o da Onélia e, ela conseguiu fazer com que todas as meninas ali presentes (eu, inclusive) acreditassem que amor verdadeiro, acima de qualquer coisa, não existe.
E a aula de ciências voltou, tranquilamente.

Sete anos depois, eu não consigo lembrar absolutamente nada da matéria de ciências que ela passou aquele dia, mas aquela frase eu nunca esqueci e sempre concordei.
Hoje eu e meu namorado estávamos conversando de boa, falando coisinhas fofas e tal, e ele me solta um “eu nunca te trocaria nem por uma Ferrari”.
Não teve como não lembrar da Onélia. Não teve como não lembrar das palavras dela. Não teve como não lembrar dos sete anos que cresci acreditando nisso. E acima de tudo, olhando nos olhos dele, não teve como não acreditar que ele estivesse sendo sincero. Ele falava a verdade, e eu sabia. Provavelmente ele não entendeu nada quando eu achei aquilo a coisa mais linda que já me falaram na minha vida, e comecei a chorar loucamente.
Mas aquilo não foi só uma prova de que ele me ama acima de tudo. Foi uma prova de que a Onélia estava errada. E eu passei a minha vida toda torcendo pra que ela realmente estivesse errada. E ela estava.
Pobre Onélia... Acho que de tudo o que eu imaginava que ela sabia, a única coisa que ela sabia mesmo era assustar menininhas de sétima série.
Hoje, acho que no fundo, beeem no fundo, mas beeem lá no fundo mesmo, ela daria tudo pra ser EU.